sexta-feira, 3 de abril de 2009

Artigo sobre Nutrição e atividade física

Nutrição e atividade física

Nutrition and physical activity
Claudia Ridel Juzwiak1, Valéria C.P. Paschoal2, Fábio Ancona Lopez3


Resumo
Objetivo: Revisar informações sobre nutrição de crianças e
adolescentes fisicamente ativos.
Método: Levantamento bibliográfico usando as bases de dados
Medline e Lilacs, a partir dos unitermos esporte ou atividade física,
nutrição e criança ou adolescente.
Resultados e Conclusão: A participação de crianças e adolescentes
em atividades esportivas é importante para o processo de
crescimento e desenvolvimento, o qual deve ser avaliado periodicamente,
enquanto a dieta deve fornecer quantidades de energia e
nutrientes suficientes para que o jovem atleta alcance todas as suas
necessidades. A alimentação deve ser adequada às diferentes fases
de treinamento, pré, durante e pós-competição. A hidratação deve
ser planejada cuidadosamente, uma vez que crianças apresentam
uma termorregulação menos eficiente que os adultos e podem
desidratar mais rapidamente, principalmente durante a prática esportiva.
Atletas do sexo feminino podem apresentar alterações
menstruais e desenvolvimento ósseo inadequado, decorrentes de
excesso de treinamento associado à ingestão energética inadequada.
Distúrbios alimentares são relatados entre alguns grupos de atletas.
A prática esportiva deve ser estimulada como parte do tratamento de
crianças com excesso de peso.

J. pediatr. (Rio J.). 2000; 76 (Supl.3): S349-S358: exercício,
nutrição do adolescente.



Introdução
A participação da criança em atividades esportivas é
parte importante do processo de crescimento e desenvolvimento.
Além da prevenção de diversas patologias, tais
como obesidade, diabetes, hipertensão, o exercício também
oferece à criança a oportunidade para o lazer, para a
integração social e o desenvolvimento de aptidões que
levam a uma maior auto-estima e confiança1.


1. Nutricionista, mestranda do Depto. de Pediatria da UNIFESP/EPM.
2. Nutricionista, mestre em Pediatria pelo Depto. de Pediatria da UNIFESP/
EPM.
3. Professor Titular da Disciplina de Nutrição e Metabolismo do Depto. de
Pediatria da UNIFESP/EPM.


É importante que crianças e adolescentes fisicamente
ativos consumam energia e nutrientes suficientes para alcançar
suas necessidades de crescimento, manutenção de
tecidos e para o desempenho de suas atividades intelectuais
e físicas1-6. Atualmente a participação cada vez mais precoce
de jovens em eventos competitivos e seu envolvimento
em programas de treinamento bastante intensos faz com
que os profissionais da saúde devam estar atentos à adoção
de comportamentos alimentares que podem trazer conseqüências
deletérias à saúde, tais como desidratação, práticas
de controle de peso inadequadas, distúrbios alimentares
e uso indiscriminado de substâncias encaradas como ergogênicas.



Crescimento e Desenvolvimento
Estatura, peso e composição corporal
Uma das principais preocupações durante a infância e a
adolescência é garantir que o crescimento e o desenvolvimento
esperados sejam alcançados. O treinamento físico
regular, ou mesmo o envolvimento em atividades físicas
relativamente moderadas do dia-a-dia, junto a outras variáveis
ambientais, influi para a obtenção do padrão de
crescimento geneticamente determinado7,8. Sua ação sobre
o músculo e ossos são fatores importantes no aumento de
pico de massa óssea durante a adolescência e, conseqüentemente,
na prevenção da osteoporose na idade adulta.
Entretanto, seus efeitos não parecem incrementar ou diminuir
os valores de estatura final9-11.
Para avaliar se o crescimento está adequado, o peso e a
estatura devem ser medidos regularmente e avaliados quanto
à relação peso/estatura, de acordo com os padrões de
referência e quanto ao índice de massa corporal (IMC)3,4,12.
A atividade física regular é importante para o controle
ponderal e foi associada com a diminuição da massa gorda
e aumento da massa magra. Contudo, é difícil diferenciar os
efeitos do treinamento dos efeitos esperados de aumento da
massa magra decorrentes do crescimento e maturação11.
Vários aspectos, tais como a densidade óssea, a proporção
de água corporal e a composição dos tecidos que
formam a massa magra diferem no adulto e nas crianças.
Embora métodos para avaliar a composição corporal tenham
sido desenvolvidos, levando em consideração essas
diferenças13,14, em jovens, a porcentagem de gordura corporal
e o peso não devem ser utilizados como critério para
a participação em esportes ou para a determinação de
requerimentos de peso, por poderem resultar num comprometimento
do crescimento e desenvolvimento normais3-5,13.

Dentre os vários métodos existentes para a avaliação da
composição corporal, as medidas de dobras cutâneas e de
circunferências são um método bastante prático15. Slaughter
e col.16 desenvolveram uma equação a partir de medidas
realizadas em uma amostragem de jovens, a qual pode ser
utilizada com a população adolescente geral. As medidas de
várias dobras cutâneas, sem convertê-las em percentual de
gordura, também podem ser utilizadas para se verificar
alterações na composição de gordura desses jovens13,14.
A equação proposta por Slaughter e col. é a seguinte:
a) Para crianças cuja soma das dobras do tríceps e
subescapular é < 35 mm
Meninos:
% de Gordura = 1,21 x (soma das dobras) - 0,008 x
(soma das dobras)2 - constante
Meninas:
% de Gordura = 1,33 x (soma das dobras) - 0,013 x
(soma das dobras)2 - constante
Pré-púbere Púbere Pós-púbere
Constantes para meninos
Brancos 1,7 3,4 5,5
Negros 3,2 5,2 6,8
Constantes para meninas
Brancas 2,0
Negras 3,0
b) Para crianças cuja soma das dobras do tríceps e
subescapular é > 35 mm
Meninos:
% de Gordura = 0,783 x (soma das dobras) + 1,6
Meninas:
% de Gordura = 0,546 x (soma das dobras) + 9,7
Ao estimar-se o percentual de gordura corporal, deve-se
ter em conta os erros associados ao método utilizado. É
interessante lembrar que, em indivíduos não atletas, a dobra
cutânea aumenta com o crescimento normal, enquanto nos
atletas pode ocorrer o inverso14. Alterações da composição
corporal devem ser monitoradas por profissional qualificado
para avaliar seus efeitos sobre a saúde e o desempenho3,4,13.
Na puberdade ocorre o desenvolvimento dos caracteres
sexuais primários e secundários, enquanto continua o processo
de crescimento físico, culminando com o segundo
estirão. Nessa fase a avaliação do estado nutricional é mais
complexa, pois os critérios não estão tão bem definidos
como na infância17. Em geral, a participação em atividades
esportivas é definida de acordo com a idade cronológica.
No caso de adolescentes, é comum que um indivíduo com
maturação sexual mais tardia tenha que competir com outro
com maturação sexual anterior, ou seja, mais alto e mais
forte11.
Tanto meninos como meninas aumentam a quantidade
de gordura corporal durante a puberdade13.
Indivíduos com maturação sexual precoce costumam ser mais gordos, especialmente
meninas, e continuam mais gordos, mais altos e
com menor capacidade aeróbia quando se tornam adultos18,19.
Kemper e col., em um estudo longitudinal de 9
anos envolvendo 200 jovens (13 a 22 anos), concluíram que
indivíduos com maturação sexual mais tardia apresentavam
ingestão energética maior e um padrão de atividade ligeiramente
superior aos adolescentes com maturação sexual
precoce, o qual resultou num percentual de gordura corporal
menor no primeiro grupo19.
Um balanço energético negativo decorrente de uma
ingestão inadequada ou devido a restrições energéticas
associadas a determinados esportes pode inibir a produção
de fatores de crescimento típicos para o crescimento e
desenvolvimentos normais. Demonstrou-se que 6 dias de
restrição energética (35 kcal/kg/dia) em crianças de 8 a 11
anos resultaram em um balanço de nitrogênio negativo e
diminuição dos níveis circulantes de IGF-I e IFGBP36. Os
autores sugerem que essas alterações hormonais podem
indicar um estado de hormônio de crescimento resistente, o
qual poderia impedir o crescimento e desenvolvimento
normais a longo prazo.

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