segunda-feira, 6 de abril de 2009

Formação Profissional (parte 1 )


NOVAS PERSPECTIVAS NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM
EDUCAÇÃO FÍSICA



Irene C. Rangel-Betti1
Mauro Betti2

ARTIGO.


RESUMO:
O objetivo deste artigo é caracterizar os principais tipos
de modelos curriculares utilizados na formação
profissional em Educação Física e propor um novo,
baseado no ensino reflexivo. São apresentadas e
discutidas as principais críticas e limitações dos modelos
de currículo tradicional-esportivo e de orientação
técnico-científica. O modelo denominado práticoreflexivo
é abordado do ponto de vista da Pedagogia e da
Educação Física. Como resultado são apresentadas
sugestões para a implantação deste modelo na formação
profissional em Educação Física, a partir dos seguintes
tópicos: a) prática como eixo do currículo; b) utilização
do conhecimento de profissionais experientes; c)
experiências de socialização dos graduandos; d) relação
dialética entre teoria e prática; e) concepção ampliada
de currículo; f) currículo temático; g) supervisão.
UNITERMOS: Educação Física, currículo, prática
reflexiva.

INTRODUÇÃO

A formação profissional em Educação Física
constitui-se, desde a década de 80, uma questão crucial
para a área no Brasil, tendo sido objeto de inúmeras
publicações e debates. Não pretendemos revisar esta
história mas, inicialmente, caracterizar os dois tipos de
currículo de formação que estão em vigor nas instituições
brasileiras e são o fruto deste processo histórico. Depois,
propor uma nova perspectiva para esta formação, a partir
de teorias emergentes na Pedagogia, oriundas da Europa e
dos EUA. O objetivo deste artigo não é reproduzir teorias
de outros países em um contexto diferente, mas tentar
iniciar uma discussão sobre a formação de professores de
Educação Física fundamentada nestes novos referenciais,
e pensando especificamente a realidade brasileira.


OS MODELOS CURRICULARES



1 Professora-Assistente do Departamento de Educação Física
da UNESP de Rio Claro, Doutoranda em Educação na
UFSCar.
2 Professor-Assistente do Departamento de Educação Física da
UNESP de Rio Claro, Doutorando em Filosofia da Educação
na UNICAMP.


Nossa leitura fez-se pela ótica do tratamento
dado à relação teoria-prática nos dois tipos de currículos
abaixo identificados. Esta opção foi feita por
considerarmos que estas relações constituem o eixo
principal dos problemas e limitações que afetam hoje os
currículos de formação profissional em Educação Física.
O currículo tradicional-esportivo enfatiza as
chamadas disciplinas "práticas" (especialmente
esportivas). O conceito de prática está baseado na
execução e demonstração, por parte do graduando, de
habilidades técnicas e capacidades físicas (um exemplo
são as provas "práticas", onde o aluno deve obter um
desempenho físico-técnico mínimo). Há separação entre
teoria e prática. Teoria é o conteúdo apresentado na sala
de aula (qualquer que seja ele), prática é a atividade na
piscina, quadra, pista, etc. A ênfase teórica se dá nas
disciplinas da área biológica/psicológica: fisiologia,
biologia, psicologia, etc. Este modelo iniciou-se ao final
da década de 60 e consolidou-se na década de 70,
acompanhando a expansão dos cursos superiores em
Educação Física no Brasil e a "esportivização" da
Educação Física (BETTI, 1991). Esta é uma concepção
ainda prevalecente em muitos cursos, especialmente nas
instituições privadas.
O currículo de orientação técnico-científica
valoriza as disciplinas teóricas - gerais e aplicadas - e abre
espaço ao envolvimento com as Ciências Humanas e a
Filosofia. O conceito de prática é outro: trata-se de
"ensinar a ensinar". Um exemplo são as "seqüências
pedagógicas". Adiantamos que ainda é um conceito
limitado, pois o graduando aprende a "executar" a
sequência, e não a aplicá-la, porque a aplicação - dizem
os defensores deste modelo - é um problema da prática de
ensino. O conhecimento flui da teoria para a prática, e a
prática é a aplicação dos conhecimentos teóricos, na
seguinte seqüência: ciência básica ⇒ ciência aplicada
⇒ tecnologia.3 Em alguns cursos propõe-se disciplinas de
síntese, como, por exemplo, "Processo ensinoaprendizagem
de habilidades motoras" e "Programas de
Educação Física", que auxiliariam nesta transição da
teoria para a prática. Como conseqüência, ocorre uma
3Por este motivo, a expressão "técnico" refere-se à tecnologia de
maneira geral, e não a técnicas de movimento (técnicas esportivas, por
exemplo)
valorização da Prática de Ensino, disciplina autônoma que
passa a ser responsabilizada quase que exclusviamente
pela aplicação e integração dos conhecimentos.

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